Saúde é também informação saudável
Há dois anos, comecei a estudar “educação para o uso das mídias e da informação” (‘media and information literacy', em inglês e ‘éducation aux médias et à l’information’, em francês) para entender como as fake news se constroem e as formas de combatê-las. No caminho, conheci a experiência fantástica da jornalista e professora francesa Rose-Marie Farinella. Neste vídeo, aos 2’15”, é possível vê-la em ação, ao final de um curso sobre esse tema em que os alunos fazem o seu juramento, sobre o mouse, de “nunca utilizar ou compartilhar nada, em termos de informação, que não tenha sido checado antes”.
O que me leva a falar dessa experiência francesa se liga ao significado da expressão “hygiène mentale”, título da série de vídeos em questão: o conjunto de medidas destinadas a conservar a integridade das funções psíquicas e a desenvolvê-las; na descrição da página do vídeo, podem-se ver referências do Canal para o desenvolvimento do espírito crítico e, em última análise, da autodefesa intelectual ... O que isto tem a ver com o momento atípico de pandemia que vivemos?! Me parece que precisamos, para além do cuidado com a higiene física, zelar ainda mais pela nossa higiene (ou saúde) mental. Como?! Protegendo-nos da ingestão perigosa de informações sem procedência, sem responsáveis por detrás delas que possam ser checados.
Pessoas (em diferentes níveis) sentem a comichão de atuar como portadores da “boa nova” em termos de soluções, neste momento, para a questão do novo coronavírus; de forma leviana e irresponsável, podem estar contribuindo para espalhar notícias falsas ou sem o devido respaldo da ciência. Hoje, todos atuam como produtores e divulgadores de informação, integrando um novo ecossistema informacional, em função das redes sociais. Faltam a esses novos atores cuidado e preparo para tal, característicos da atividade profissional jornalística. Qual o papel da imprensa nesse contexto? O jornalismo de qualidade é muito importante neste momento. É a boa imprensa que, responsavelmente, identifica as melhores fontes médico-científicas (tem acesso facilitado a elas), sabe extrair o melhor da interlocução, por meio de perguntas claras e objetivas, e traduzir tudo para o leitor leigo.
E retomando o tema da educação para o uso das mídias e da informação, vejo que aí reside a saída para o desenvolvimento de atitudes cidadãs e sadias, em duas vertentes: a da produção (e compartilhamento) responsável da informação e a do consumo crítico do que lemos, ouvimos e assistimos, num processo de autodefesa intelectual.
Neste momento, além de falar ao vivo com as pessoas para ouvir sua voz, ler, ouvir música etc., precisamos valorizar e consumir informação de qualidade que as fontes idôneas estão produzindo. Assim, não sucumbiremos mentalmente à 'infodemia' da pandemia.
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