Desinformação sobre alimentos e ciência – uma batalha a mais dos nossos dias!
Esta é a contribuição que deixo após ser convidada para falar sobre Educação no workshop “De onde vêm e para onde vão as fake News sobre alimentos e alimentação”, promovido pela Verakis Médiation Scientifique, em conjunto com a ESPM – Agrifood and Franchising Research Center.
A proposta do workshop foi a de discutir como profissionais ligados à indústria de alimentos, acadêmicos, nutricionistas, jornalistas e educadores podem contribuir para a detecção e contenção de desinformação sobre alimentos e alimentação.
É sabido que pessoas mais desavisadas podem se deixar levar por informações falsas sobre saúde e alimentação, em função de vieses cognitivos (próprios da natureza humana), e propagá-las na crença de estarem ajudando outros a resolver problemas de maneira rápida e com custos menores.
Diante desse fato, cabe uma boa reflexão sobre formas de se desenvolver uma percepção fina do que caracteriza a desinformação para poder enfrentar em melhores condições a situação. Essa é a proposta da Educação para o Uso da Mídia e da Informação – um campo de especialização em que se busca alertar para a produção e consumo consciente e responsável da informação. No Brasil, já há várias iniciativas nesse sentido, como o projeto Educa Mídia, que se vale da oportunidade, criada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de exploração do campo jornalístico-midiático em sala de aula. Nos Estados Unidos e em países da Europa, o tema Media and Information Literacy Education (MIL) já conta com ações de associações, organizações não governamentais e universidades e mesmo de governo, como é o caso da França; desde 2013, o país integra ao currículo de escolas públicas a disciplina Éducation aux Médias et à l’Information (EMI). Neste vídeo é possível ver crianças francesas, numa dessas aulas, avaliando a natureza da informação sobre o produto iogurte, veiculada tanto por uma propaganda como por meio de uma entrevista com um nutricionista.
Há outras iniciativas pelo mundo, para além da Educação, com o foco na questão da disseminação de informações falsas. Segundo este artigo da Wired, já começa a surgir nas redes sociais (com destaque para YouTube e Instagram) a figura do cientista-influenciador que desmascara informações suspeitas, incorretas em sua área de especialização – uma ação que precisa de tato e empatia para não enfurecer os “enganados” e torná-los mais apegados ainda às evidências pseudo-científicas.
No Canadá, a Agence Science-Presse (organização independente, sem fins lucrativos, fundada em 1978), tem a missão de alimentar as mídias do ponto de vista da ciência. Ela mantém, em seu site, a seção Détecteur de rumeurs (Detetor de boatos) onde faz um fact-checking de caráter científico sobre temas da atualidade.
Voltando ao Brasil, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), entidade científica sem fins lucrativos, criada em 1998, acaba de publicar o estudo As Fake News estão nos deixando doentes? realizado em conjunto com a Avaaz, que investigou a associação entre a desinformação e a queda nas coberturas vacinais verificadas nos últimos anos.
No final de novembro, a Rede Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Ciência realizou evento em São Paulo em que discutiu os desafios de falar de ciência na era digital.A hashtag#papoemrede dá uma ideia das discussões pelo Twitter.
Unidos pela mesma causa de valorização da informação de qualidade, esses atores todos – educadores, especialistas nas diversas áreas do conhecimento, jornalistas e associações de classe precisam, mais do que nunca, atuar em conjunto e de forma permanente. Está em jogo o benefício ou prejuízo – para pessoas, segmentos de mercado, áreas do conhecimento e empresas. Estamos todos num mesmo barco que deve chegar a salvo no seu porto!
Obrigada Verakis e Agrifood and Franchising Research Center pela oportunidade de refletir com vocês sobre esse tema!
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