Atenção – produto raro e ameaçado!
Tradução livre por Vera Lúcia Vieira do artigo L'attention, ultime défi d'un monde digital ? publicado na Harvard Business Review France por Yves Le Bihan, presidente do Instituto Francês da Liderança Positiva
Entramos numa era em que a atenção está se tornando uma qualidade fundamental; ela é a base da relação com o outro, a base de outras qualidades como a empatia, a boa-vontade ou a compaixão. Ainda que nosso capital de atenção esteja em perigo, nem tudo está perdido: as neurociências e as ciências da contemplação mostram que podemos facilmente trabalhar e desenvolver esse precioso recurso.
A atenção é um tema amplo e não tão bem explorado, que remete inicialmente a nossas faculdades cognitivas: ela propicia a concentração, a reação rápida a mudanças no ambiente e, também, a memorização. Ela está no centro das questões de eficácia no trabalho mas, também, das relações sociais, da mudança da economia (centrada até aqui no lucro a curto prazo) para uma economia preocupada com os outros e com os recursos do planeta - uma economia do cuidado, da atenção, da consciência da nossa interdependência.
Aquecimento neural
Falamos, com razão, do aquecimento climático, mas claramente menos do aquecimento neural que corrói nossas organizações. Ora, é urgente agir, sobretudo nas empresas. Nosso espírito está saturado, nossa carga mental nunca foi tão elevada: a informação (no plano digital) dobra a cada 4 anos. Temos um tsunami informacional, uma “infobesidade” que mina as organizações. Esse bombardeio provoca ansiedade e angústia. “Será que vou conseguir dar conta de toda essa informação até o fim do dia?!” Tanto o excesso de informação como a desinformação consomem nosso capital de atenção – quanto mais abundante, mais nossa atenção se fragiliza. O pior de tudo é que os executivos passam 40% do seu tempo processando a informação. Essa poluição informacional tem duas consequências diretas: freia o processo de decisão (a gente se sente confortado na busca da informação e adia, o tempo todo, o momento de decidir) e gera um custo estimado, em 2010, pela consultoria Basex, de 900 bilhões de dólares por ano, que corresponde ao tempo perdido na busca da boa informação na floresta dos dados.
Nós somos interrompidos a cada 3 minutos. Essa distração mental requer tempo (até 23 minutos) para voltar a se reconcentrar na tarefa em curso; ela baixa a qualidade do nosso trabalho, aumenta a taxa de erro e pode até provocar uma redução de 10 pontos no nosso QI. Mas, sobretudo, ela aumenta nosso nível de estresse pela sensação de nos vermos sobrecarregados e pressionados pelo tempo.
Consultamos nosso smartphone em média 150 vezes por dia. Essa ultra conectividade provoca um tecnoestresse: 22% dos franceses seriam vítimas de nomofobia (transtorno de ansiedade ligado ao medo excessivo de se separar do celular).
Multitarefismo
Nós somos campeões da multitarefa. Você chega a responder e-mails durante uma reunião, ler um SMS durante uma conversa, fazer pesquisas na Internet falando ao telefone?! Corriqueiro, não? Só que essa permanente atenção parcial (a mobilização em relação a vários assuntos sem nunca estar concentrado em um ou dois, de fato) tem um impacto negativo sobre nossos recursos cognitivos e aumenta o risco de erro em 50%, segundo os pesquisadores Aral Sinan e Erik Brynjolfsson. É preciso fazer pausas, oxigenar a mente e redescobrir a arte do diminuir o ritmo.
Nossa mente passa 47% do tempo vagando de forma ansiosa (ruminando, antecipando ...) segundo uma pesquisa da Harvard University (Matthew A. Killingsworth and Daniel T. Gilbert). Uma atenção tão errante pode alterar nosso sentimento de bem-estar e nosso desempenho.
Atenção X Empatia X Compaixão
Para Daniel Goleman, pai da inteligência emocional, a atenção é a base da emoção socio-emocional e, cada vez mais, será uma das qualidades essenciais do líder. Um espírito atento, segundo ele, é um espírito mais concentrado, mais resiliente e empático e é o alicerce da consciência de si mesmo e da inteligência emocional. Para treinar o cérebro, o psicólogo americano recomenda a prática da meditação - pois (uma boa notícia) a atenção não se perde para sempre: ela se trabalha, se desenvolve. Para prová-lo, conduzimos uma pesquisa com 400 pessoas a quem propusemos um programa de liderança positiva (treinamento mental, psicologia positiva e exercícios neurocientíficos). Após 10 semanas, gerentes e seus colaboradores declararam que sua capacidade de atenção tinha melhorado significativamente. Isto levou ao desenvolvimento da empatia e da compaixão dos gerentes, resultando num senso maior de reconhecimento e de bem-estar percebido pelos colaboradores.
Alguns dirigentes se convenceram disso como Stewart Butterfield, da Slack, uma start-up de 7 bilhões de dólares que comercializa uma plataforma colaborativa e um software de gestão de projetos. Ele fez, da atenção e da empatia, qualidades fundamentais da cultura da empresa, a ponto de dar este tipo de conselho surpreendente a seus colaboradores: “Se uma reunião merecer a sua atenção, prestigie-a; se ela não merecer, diga (isso) e vá embora!”
Tradução livre por Vera Lúcia Vieira do artigo L'attention, ultime défi d'un monde digital ? publicado na Harvard Business Review France por Yves Le Bihan, presidente do Instituto Francês da Liderança Positiva
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